“essa rádio está boa, moça?”
“está ótima,
muito obrigada”
(penso:
não
enquanto
as músicas
de todas as corridas
falarem comigo –
frágil testemunha
de um crime sem perdão –
eu não roí
unha nenhuma
o ombro esquerdo ainda
fisga e arde
a água quente se lembra
do caminho vermelho
da glosa grosseira
manuscrita
entre as minhas pintas
mais bonitas
um ‘nem pensar’ cuspido
entre dentes tortos
decretei lockdown dos sentidos
muito antes do(s) vírus
todas as bebedeiras
desde a primeira
demoraram a passar)
“o GPS encontrou uma rota mais rápida”
“pode seguir por ela, então,
muito obrigada”
(nos mapas que sobreviveram
nos separa
uma geografia intocada:
não se assuste –
é somente
água).
***
Créditos:
Música de fundo: Refrão de bolero – Engenheiros do Hawaii
Locução: primeiro verso do poema “Agradecimento”, de Wisława Szymborska, recitado pelo Google Translator, no original em polonês
Montagem, texto e edição de som e imagem: @annaclaradevitto